Prefeito tenta jogar a população contra a antiga empresa, mas esquece de contar que foi ele quem criou a emergência — e agora não sabe como sair dela
O povo de Pompeia está sem ônibus. E, para o prefeito Diogo Ceschim, a culpa é da antiga concessionária, que “se recusou” a continuar o serviço. A narrativa foi empacotada num vídeo gravado às pressas e jogada nas redes sociais, com um tom de “estou sendo injustiçado”. Mas basta olhar os autos do processo e as decisões judiciais para descobrir a verdade: o caos no transporte público da cidade foi fabricado dentro do próprio gabinete do prefeito.
Primeiro erro: criar a emergência que depois virou desculpa
A denúncia do Ministério Público foi clara: não havia emergência alguma para justificar a contratação direta da empresa Transporte Coletivo Grande Marília Ltda. O contrato anterior tinha data certa para terminar. A Prefeitura sabia. Poderia ter aberto licitação. Não abriu. Preferiu empurrar um contrato de R$ 3 milhões sem concorrência, num arranjo que hoje está suspenso por decisão da Justiça.
E mesmo diante disso, Diogo decidiu mirar a culpa na Empresa Circular de Pompeia, que operava o serviço há anos. Disse que a empresa não quis assinar um aditivo emergencial. O que ele não disse foi que ele mesmo já havia declarado que não renovaria com a empresa, por considerar ilegal. E depois tentou obrigá-la, judicialmente, a voltar ao serviço – depois de atacá-la publicamente.
Vale lembrar que ao atacar o serviço prestado, a própria administração assina um atestado de incapacidade administrativa, já que o dever de fiscalizar a atuação da concessionária era dela mesma, conforme consta no contrato vencido no último dia 31.
Segundo erro: prometer ônibus próprios e depois confessar que não tinha
No processo, a Prefeitura ainda chegou a informar que poderia assumir o transporte com frota própria. Dias depois, voltou atrás: os veículos que imaginavam usar são, na verdade, da educação — e seu uso colocaria em risco o transporte dos alunos no retorno às aulas. Ou seja, prometeram o que nem sabiam se podiam cumprir, em mais um ato de despreparo administrativo.
Terceiro erro: usar a população como escudo
Nos vídeos publicados em rede social, Diogo faz o de sempre: discurso suave, voz controlada, palavras ensaiadas. Mas tenta jogar a população contra a empresa que denunciou o erro, como se ela tivesse abandonado a cidade. O detalhe que omite é que a empresa havia demonstrado interesse em continuar no serviço, e só foi descartada pela própria gestão.
A Justiça respondeu
O juiz da 1ª Vara de Pompeia não apenas manteve a liminar que suspende o contrato emergencial, como também negou o pedido da Prefeitura para obrigar a antiga empresa a assinar um novo contrato. Em decisão firme, explicou que o Judiciário não pode forçar uma empresa a celebrar contrato que não deseja, e que essa tentativa ultrapassava os limites legais. Traduzindo: a manobra foi desleal e juridicamente absurda.
O povo não é bobo
Enquanto o prefeito tenta moldar narrativas com vídeos bem produzidos, o povo segue a pé. E agora sabe: a crise no transporte não foi causada por abandono da empresa, mas por erro grosseiro da Prefeitura.
A população merece um serviço melhor. Todos querem um transporte digno. Basta o prefeito fazer a coisa certa — do jeito certo.
Simples assim.