A dor de uma moradora de Pompeia, que perdeu um familiar e decidiu expor nas redes sociais o que chamou de abandono por parte da Santa Casa, gerou comoção imediata. O vídeo viralizou. Vieram palavras de apoio, desabafos semelhantes e críticas à saúde pública. Mas entre tantas manifestações, uma chamou atenção — não só pelo conteúdo, mas por quem escreveu.
Fátima Moraes, que ocupa um cargo comissionado no Gabinete do Prefeito Diogo Ceschim, resolveu responder à moradora. Em vez de acolher o luto ou reconhecer as falhas do sistema, partiu para o ataque, colocando a culpa dos problemas na conta de gestões anteriores.
No comentário, ela afirmou:
“Os repasses destinados à Santa Casa eram desviados para outros fins, e até mesmo funcionários foram contratados sem nunca terem trabalhado lá. Inclusive a cidadã que fez o vídeo era funcionária da Santa Casa e nunca trabalhou nela, e uma parte da verba foi paga o seu salário. […] Estamos aqui para consertar os erros deixados para trás.”
Quando a acusação vem de dentro do poder
Fátima não é uma comentarista de rede social. Ela faz parte do grupo de confiança do prefeito. Seu marido, Arthur dos Santos Filho, também ocupa cargo no gabinete e é o responsável pela Frota Municipal. Juntos, recebem dos cofres públicos R$ 11.456,82 mensais em salários brutos.
Ou seja, não se trata de uma opinião isolada, mas de uma manifestação pública feita por quem está no coração do governo — com cargo, influência e acesso direto ao poder.
Diante disso, surgem questões inevitáveis: há alguma investigação em andamento que confirme essas denúncias? Existe apuração formal? Algum documento foi apresentado? Até o momento, nada.
O silêncio oficial e a contradição interna
A Prefeitura ainda não se pronunciou. Nem para endossar, nem para desautorizar o comentário. Também não há resposta da Santa Casa nem do Departamento de Higiene e Saúde.
Vale lembrar: durante o período em que essas supostas irregularidades teriam acontecido, o provedor da Santa Casa era Alair Mendes Fragoso — hoje nomeado por Ceschim para cargos estratégicos na saúde. Primeiro como superintendente do DHS, agora à frente da Diretoria de Inovação e Tecnologia em Saúde Pública. Detalhe que não passou despercebido por quem acompanha os bastidores da política local.
O que deveria ser escuta, virou ataque
A fala da moradora partiu de um lugar de dor. Perdeu alguém e decidiu expor o que viveu. A resposta, no entanto, foi uma tentativa de desqualificá-la publicamente. Tudo isso vindo de alguém com cargo de confiança, ligada diretamente ao gabinete do prefeito.
Se há irregularidades, que se investigue. Se não há, que se respeite o luto e o direito de qualquer cidadão de criticar o serviço que recebe. O que não dá é para agentes públicos usarem redes sociais como tribunal e palanque ao mesmo tempo.
Pompeia tem história. Já viu a saúde funcionar com dignidade, mesmo com dificuldades. O que não viu — e continua sem ver — é a saúde funcionar com o governo que aí está. E isso não é culpa de quem denuncia. É responsabilidade de quem governa.culpa de quem denuncia. É responsabilidade de quem governa.
